quarta-feira, 13 de julho de 2011

CÁRCERE. Nós amamos!!!




Terapia extra muros: teatro x saúde mental

A equipe de saúde mental da Unidade de Saúde do Vale Encantado vem sempre inovando. Desta vez colocou em prática uma idéia que vínhamos discutindo em conjunto com o grupo masculino e feminino. E, nesta oportunidade, fomos ao teatro Carlos Gomes assistir a peça CÁRCERE, de autoria de Saulo Ribeiro e Vinícius Piedade.

A organização conseguiu os ingressos - cortesia da produção do evento e do ator. Nós arrumamos o transporte e em uma noite fria de sábado, precisamente dia 11/06, partimos para o teatro.

Ao chegarmos ao teatro fomos recepcionados pela produtora da peça e pela assessora do teatro, que com muita simpatia nos acomodou nas primeiras cadeiras para não perdermos nada do espetáculo, que em poucos minutos teve início. Tivemos também oportunidade de cumprimentar um dos autores da peça.

CÁRCERE é um monólogo que narra a história de um rapaz que era garçom e tinha um sonho de tocar piano. Em meio ser garçom e pianista ele se envolveu com o tráfico de entorpecentes e acabou preso. Na cadeia ele viu de perto como funciona o sistema carcerário, e ali ele sofreu esperando a visita de um defensor para obter um alvará.

Ele, como muitos outros, mesmo já cumprido sua pena ainda não foi julgado como manda a lei.

Para mim uma das coisas mais marcante da peça é quando o ator fala da liberdade. Engraçado é que quando se está preso tem que sonhar com a liberdade, mas ele sonhava com a prisão. Pensando em seu alvará ele também sabia que ao sair dali seria tatuada em sua testa uma marca que o acompanharia para sempre. Essa é uma marca com a qual são penalizados por toda a sociedade, que ao invés de acolher, discrimina.

Ele também viveu de perto uma rebelião, e quando tem rebelião, no final o saldo não é nada positivo.

Deu pra ver que o ator relata que a liberdade não tem preço.

Eu também sou um preso, não vivo trancado em uma cadeia com muros altos, portões gigantes nem uma cela com outros detentos. Eu me sinto preso pelo preconceito, e o preconceito me condena à prisão perpétua. Sabe por quê? Quem me julga não se baseia na LEI 10216/2001 e é essa que me dá a liberdade.

Assim como eu, tem muitos presos querendo ter a sua liberdade, ser liberto pela sociedade. Então, queremos o nosso alvará!

Voltando a falar da peça, o ator foi o máximo! Eu particularmente me senti dentro da peça, sai de lá com a auto-estima elevada, me senti com o meu alvará e livre.

O Vinícius esbanjou muita simpatia; fez questão de abraçar e cumprimentar cada um de nós e desejar muitas felicidades.

Agora já sei que para continuarmos livres temos que tirar de nós todos os aspectos que nos prendem. Vamos ignorar a tatuagem, tirar esse rótulo de preso pelo preconceito e voltar à inserção na sociedade.

Assim como diz o personagem “Ovo”, temos que fazer a contagem regressiva: 10-09-08-07-06-05-04-03-02-01. Não estamos mais em um cárcere, estamos livres. E livres para voar.