Era março de 2008. Assumíamos o Programa de Saúde Mental na Unidade de Saúde do Vale Encantado com a missão de reorganizar o programa e fazê-lo voltar a funcionar. O trabalho estivera paralisado devido a falta de profissionais (Assistente Social, Psicólogo e Psiquiatra). A demanda era grande e as necessidade maiores ainda. Os desafios eram muitos e os recursos escassos. Foi necessário muita disposição, energia e vontade de fazer acontecer, mas aos poucos as coisas foram se ajeitando.
A comunidade era acessível, os pacientes demonstravam interesse e bom nível de adesão. Juntos, foi possível retomar a caminhada e “por o programa nos trilhos”.
O primeiro passo para que isto acontecesse foi reorganizar a demanda e identificar os pacientes anteriormente atendidos, localizá-los e reinseri-los. Num segundo momento, e paralelamente a isto, fomos identificando as necessidades maiores, conhecendo a clientela e definindo os rumos a seguir. Foram traçadas estratégias e definidas ações que, como em qualquer outro programa dessa natureza, incluíam intervenções diversas como: atendimentos individuais e grupais, visitas domiciliares, etc. Mas só isto não seria suficiente. Queríamos mais! E decidimos ousar e experimentar.
Foram 3 anos e cinco meses de caminhada ao longo dos quais investimos muita energia e vontade de realizar. As palavras chaves foram ousadia, determinação, coragem, compromisso e confiança. OUSADIA, para inovar, reinventar, acreditar que seria possível; CORAGEM, para não ceder às imposições e não abrir mão dos princípios que acreditávamos e defendíamos; DETERMINAÇÃO, para não desanimar e nem esmorecer frente aos inúmeros obstáculos que surgiam ao longo do caminho; COMPROMISSO, para responder e corresponder à confiança que os pacientes e familiares depositavam em nosso trabalho; CONFIANÇA, com que os pacientes compartilhavam seus sofrimentos, sentimentos, histórias de vida, temores, anseios e necessidades e, principalmente confiança de que os caminhos propostos nos “levariam a um lugar melhor”. Foi preciso uma boa dose de cada um destes elementos para fazer possível sonhos individuais que se tornaram coletivos e se materializaram de várias formas. Foram muitos encontros, passeios, desenhos, contos, histórias partilhadas e muito mais. Vimos e experimentamos, ousamos e provamos que, além de ser possível e viável, pode ser rico e prazeroso.
Nessa caminhada foram formados vários grupos. Alguns se fundiram e juntaram forças e outros, com caminhada mais recente, ainda estão se integrando neste processo. Foram quase 200 encontros, vários passeios (inclusive para fora do município e do Estado); ida ao teatro, visita a museus e pontos turísticos, participações em conferências, manifestações públicas ligados à causa da Saúde Mental, etc.
Impossível descrever todos os detalhes deste processo e caminhada. Mas nada nos impede de relembrá-los. Relembrar para fixar na memória tudo que juntos fomos capazes de realizar; relembrar para não esquecer que sempre é possível e relembrar para revitalizar nossas forças e continuar acreditando que é possível sempre.
Essa postagem se propõe a isto: Relembrar nossa caminhada e fortalecer nossa luta. Bom “passeio”!
